sábado, 22 de maio de 2010

Artigo: Corpos, papelão e lixo!

Lamentavelmente, diante da brutalidade e da miséria humana, amanheceu no dia 20 de outubro de 2009, exposto em plena rua, no bairro de Copacabana, dentro de um carrinho de supermercado, como uma mercadoria podre, descartável, uma miscelânea de lixo, papelão e um homem assassinado.

Para aqueles que acordaram cedo e seguiam seu caminho para os afazeres diários, trabalho, ou lazer, uma visão chocante, estarrecedora, mais um homem morto, mirado pelo temor, aumentando o pavor de muitos, pela barbaridade da violência vivenciada na sociedade e a permanente insegurança diante da inoperância e capacidade do poder público.

Inoperância sim na educação publica de qualidade, na saúde publica, nas oportunidades dos jovens de adentrarem ao mercado de trabalho, enfim, muitas crianças e adolescentes não encontram senão a facilidade para o mundo do crime, pela falta de oportunidades de conhecer uma vida decente e justa.

O Brasil tem um histórico de aumento contínuo e constante do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), porém, a passos muito curtos.” Essa é a constatação do coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano 2009 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Flávio Comim.

Segundo o relatório, publicada pela Agência Brasil, 05-10-2009, o Brasil não tem conseguido avançar na lista. De 1980 a 2007, o IDH brasileiro aumentou apenas 0,63%.

Nesse ponto, o maior entrave, segundo Comim, tem sido a alta taxa de mortalidade infantil brasileira. “Isso está ligado não só à saúde, mas também à educação. Por exemplo, entre as crianças filhas de mães sem nenhum acesso à educação, as taxas de mortalidade infantil chegam a 119 por mil nascidos vivos. É um número maior do que os de muitos países africanos”, afirmou o coordenador.

Por falar em mortalidade infantil, vamos nos estarrecer mais ainda. Na semana passada, dia 26 de novembro, 36 dias após o incidente de Copacabana, em Salvador, crianças pobres, acostumadas a catar lixo em um aterro clandestino, no bairro de Valéria, se depararam com mais uma brutalidade humana, um desrespeito à vida!

Encontraram também misturadas ao lixo e assassinadas, como o homem do carrinho de supermercado, oito fetos numa caixa de papelão e em um saco plástico, entre dois e oito meses de gestação. Foi constatado que entre eles havia um casal de gêmeos, cujos cordões umbilicais ainda estavam ligados à placenta.

Quantas coisas abomináveis! Crianças no lixão em busca de objetos recicláveis que pudessem render alguns trocados para a sobrevivência de suas famílias! Crianças que encontram crianças jogadas ao lixo, como se nada valessem! O que pensaram estas crianças? Que juízo de valor estas crianças estão fazendo da vida? Que parâmetro de moralidade a sociedade apresenta para as crianças? Que respeito à vida podemos ensinar matando fetos e os jogando nos lixos? Que vergonha! Lamentável!

Crianças merecem nascer, comer, sorrir, brincar, estudar, ter amor de seus pais e direitos respeitados. Assim, possivelmente crescerão aprendendo a respeitar os outros, para podermos formar uma nação com ética e justiça!