Gostaria de ressaltar pelo menos
duas questões fundamentais e indispensáveis, que precedem o processo de
alfabetização de crianças e não são viabilizadas no Brasil. A primeira é a
contribuição da literatura infantil, que interfere no desenvolvimento social,
emocional e cognitivo da criança. A leitura como instrumento desafiador, que propicia a capacidade da criança em melhor expressar
suas idéias. Porém, os governos não investem neste setor e existe um déficit
enorme de bibliotecas nas escolas públicas do país, fato que desfavorece o
processo alfabético infantil. É justamente através da linguagem simbólica que a
criança inicia sua leitura de mundo, inicia o contato com a representação das
letras, cria e reconta histórias e inicia seus rabiscos e garatujas.
A segunda questão é a experiência da
primeira infância, que insere a creche, e também não é oferecida para esta
criança, para este público. Apenas 20% das crianças de até 3 anos estão na
escola. A educação infantil é algo fundamental no processo de garantia da
alfabetização, pois nesta fase se vivencia a socialização, que interfere na
capacidade de aprender, no comportamento e na saúde mental da criança. É
preciso que sejam estabelecidas bases fortes para uma educação posterior.
James Heckman, prêmio Nobel de
economia e autor do mais abrangente estudo já realizado sobre educação infantil
e seus impactos no indivíduo e na sociedade, diz que "o Brasil ainda
engatinha", e Jack Shonkoff, diretor do Centro de Desenvolvimento
Infantil da Universidade de Harvard e professor da faculdade de educação da
mesma instituição, diz: "aqui, oito em cada dez crianças de até 3 anos
estão fora da escola. Crianças
vindas de famílias com renda e escolaridade mais elevadas tendem a ser supridas
desses estímulos em casa, mas as outras, não. Por isso, os índices brasileiros
merecem atenção".
Portanto, enfrentar isoladamente distorções
regionais de analfabetismo, não é a solução mais adequada. O investimento será
de mais de R$ 600 milhões e é preciso avaliar e aliar fatores indispensáveis,
que contribuirão dignamente no processo de aprendizagem do público infantil. Ou
seja, investir em educação infantil é coisa séria!
* Pedagoga e
Representante do IMJOA (Instituto Marias e Joanas)