quarta-feira, 27 de março de 2013

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, é a coisa certa?


                                                                   
         
           Responsabilizar, valorizar e intervir na alfabetização infantil é algo positivo e necessário, que compete aos governos federal, estadual e municipal, conjuntamente, como pretende o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, embora a questão idade, não seja o mais representativo, na minha opinião; acredito ser mais importante, estabelecer uma mudança de paradigma nos processos arcaicos e descontextualizados da educação. A rigor, investir em educação, é ter políticas públicas educacionais, que perpassam pela valorização e gestão da educação e dos profissionais da área. Não é razoável e determinador ter como perspectiva de mudança, o ato de alfabetizar, como fator isolado.
            Gostaria de ressaltar pelo menos duas questões fundamentais e indispensáveis, que precedem o processo de alfabetização de crianças e não são viabilizadas no Brasil. A primeira é a contribuição da literatura infantil, que interfere no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança. A leitura como instrumento desafiador, que propicia  a capacidade da criança em melhor expressar suas idéias. Porém, os governos não investem neste setor e existe um déficit enorme de bibliotecas nas escolas públicas do país, fato que desfavorece o processo alfabético infantil. É justamente através da linguagem simbólica que a criança inicia sua leitura de mundo, inicia o contato com a representação das letras, cria e reconta histórias e inicia seus rabiscos e garatujas.
            A segunda questão é a experiência da primeira infância, que insere a creche, e também não é oferecida para esta criança, para este público. Apenas 20% das crianças de até 3 anos estão na escola. A educação infantil é algo fundamental no processo de garantia da alfabetização, pois nesta fase se vivencia a socialização, que interfere na capacidade de aprender, no comportamento e na saúde mental da criança. É preciso que sejam estabelecidas bases fortes para uma educação posterior.
            James Heckman, prêmio Nobel de economia e autor do mais abrangente estudo já realizado sobre educação infantil e seus impactos no indivíduo e na sociedade, diz que "o Brasil ainda engatinha", e Jack Shonkoff, diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard e professor da faculdade de educação da mesma instituição, diz: "aqui, oito em cada dez crianças de até 3 anos estão fora da escola. Crianças vindas de famílias com renda e escolaridade mais elevadas tendem a ser supridas desses estímulos em casa, mas as outras, não. Por isso, os índices brasileiros merecem atenção".
            Portanto, enfrentar isoladamente distorções regionais de analfabetismo, não é a solução mais adequada. O investimento será de mais de R$ 600 milhões e é preciso avaliar e aliar fatores indispensáveis, que contribuirão dignamente no processo de aprendizagem do público infantil. Ou seja, investir em educação infantil é coisa séria!

* Pedagoga e Representante do IMJOA (Instituto Marias e Joanas)