sábado, 16 de abril de 2011

Quantos anos você tem? Onde você mora?



“Falta de comida leva crianças a habitar as vias públicas”, matéria do Jornal A Tarde, de hoje, 16/4/2011, e perguntas como essas foram feitas a duas crianças de 3 e 5 anos, que remexiam a lixeira e moram nas ruas de Salvador, especificamente na Praça do Campo Grande. O repórter perguntou onde moravam; o mais velho se adiantou e respondeu: “na rua” e continuou “minha mãe trabalha e eu trabalho com ela, de vez em quando o moço da padaria dá alguma coisa pra a gente comer”.

Milhares de crianças vivenciam essa terrível e trágica situação, que considero tão infame e vil, como o ato de crianças morrerem asfixiadas com gás, sem produzir energias, nos campos de concentração.

Segundo a Secretaria dos Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, 13,8% dessas crianças não conseguem se alimentar com uma refeição diária e que 70% estão nas ruas por falta de alimentos em seus “lares”. 

Quanta indignidade no nosso Brasil, onde os 10% mais ricos detêm quase toda a renda nacional. A gravidade da situação de miséria de grande parte da nossa população exige que se repudie essa violência moral, com veemência. Nossas crianças estão morrendo de fome! Inaceitável, uma imoralidade no país onde constantes corrupções são vergonhosamente comprovadas e verbas de merenda escolar são desviadas para comprar ração para cães e uísques para políticos, enquanto cerca de 5 a 20 milhões de pessoas falecem por ano por causa da fome e muitas delas são crianças.

Segundo a matéria do jornal, em 2010 a prefeitura de Salvador recebeu do Fundo Estadual de Assistência Social, R$ 1,9 milhão para aplicar em abrigos e repasses às instituições conveniadas, mas segundo a Coordenadora da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), o município não usou toda a verba! A Promotora da Infância e Juventude do Ministério Público, Mônica Barroso disse: “vivemos uma realidade gravíssima e o município é omisso e negligente”. As instituições filantrópicas sérias, que seriam um “porto seguro” para essas crianças estão fechando suas portas, por falta de apoio e repasse de verbas.  

Que país “esses governantes corruptos” querem deixar para essas crianças? Qual será o futuro dessas crianças e adolescentes, se tiverem? Quais serão suas referências? Desvios? Mentiras? Abandono? Marginalidade? Medo? Transtornos psíquicos? Ódio?

Quais são os sonhos desses pequeninos? Comer? Tomar um sorvete? Estudar?Ter uma família? Atenção? Amor? Como agirão e reagirão quando adultos, levando consigo tantas marcas indeléveis, de um Estado hipócrita, desumano, que deixa suas crianças crescerem, viverem e morrerem nas ruas?

Quantas tragédias ainda veremos em vídeos, nas TVs, de jovens, adolescentes, tresloucados, que viveram a indiferença, a exclusão, o abandono, a discriminação, a miséria, a fome e a injustiça social?  
E o Conselho Estadual da criança e do adolescente, qual sua posição? E o Estatuto da Criança e do Adolescente, não é respeitado? 

Não é só a psique dos pais que influencia a criança, mas o mundo como um todo, inclusive o seu desenvolvimento físico/orgânico marca profundamente sua consciência incipiente, que começa a surgir e se diferenciar do inconsciente. 

Marcas ficarão em seus corpos, em seus espíritos, no consciente e no inconsciente. São pessoas que não terão muitas escolhas.

Escolher é apropriar-se do desejar a partir de um trabalho de pensamento. Escolher é um ato privilegiado de articulação entre o desejar e o pensar. Pensar não é uma atitude cartesiana, que se faz fechada na casa da racionalidade. Pensar, autorizar-se a pensar, supõe autorizar-se a mudar a realidade circundante, a questionar aquilo que está, a transformá-la, a incluir modificações. São direitos universais ao ser humano, comer, brincar, ter um lar, estudar, aprender, ser autônomo, crescer sadio e decidir!

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